Hoje eu sei que não vou conseguir dormir e preciso me perdoar por isso. De nada adianta querer produzir qualquer coisa fritando nesse nível.
Qual o objetivo em me martirizar lendo autores mais talentosos que eu?
Qual o intuinto em assistir qualquer coisa que irá apenas contribuir com a minha depressão?
De nada adianta também gastar o meu último suprimento de cocaína fazendo testes imbecis na internet.
Ouvindo músicas que já conheço e nada me satisfazem.
Nem me masturbar eu consigo, por Deus.
A grande sacada é que eu não consigo sair dessa cadeira porque estou postergando me olhar no espelho. Tem um espelho bem atrás do computador e por alguma paranóia sem fundamento estou com medo de encará-lo.
Obviamente há a opção de simplesmente fechar os meus olhos, mas um viciado está sempre enaltecendo seus próprios delírios. Provavelmente algum som me fará abrí-los no susto. Se não isso, algum pânico imprevisível irá acometer meu pobre coração arrítmico.
Qualquer estratégia está fadada ao fracasso, estou resignada a me entediar enquanto a sobriedade não chega.
Escrever esse texto preguiçoso é a minha última tentativa de entretenimento.
Eu lembro quando eram 21:00, agora já são 05:00.
As teclas escorregam dos meus dedos numa textura emborrachada. Todo meu tato tem a sensação de cãimbra.
Meus pensamentos fogem de qualquer sofisticação enquanto minha capacidade de digitar não acompanha o intelecto entorpecido. Juro que essa frase (e provavelmente todas as anteriores e as que estão por vir) eram melhores na sua concepção original.
É bom registrar que esse não é meu modus operandi. Eu não costumava me drogar em casa, muito menos sozinha. Não uso pó como rotina. It's not my drug of choice.
E nem teria como, essa é um vício de playboy.
Enquanto eu desperdiço minutos do meu dia comparando o preço da Coca-Zero nos diferentes mercados da região, eu não consigo bancar o estilo de vida de um cocaínomo.
Eu sinto as estrias na minha coxa, deslizo até a parte mais erógena que elas alcançam. Estou a centimetros da minha buceta, mas não consigo me masturbar. É uma merda de uma maldição. Eu sou um junkie cheio de tesão, daqueles com calça de vinyl e que há 10 anos provavelmente ostentava uma blusa do Strokes. Aquele junkie riquinho que passa a festa inteira no sofá falando frases assertivas que transintam entre a subversão e a pretensão. Eu sou aquele junkie que você quer muito que te coma de uma forma esquisita, com uma violência desengonçada, mas quando você finalmente me leva ao banheiro eu broxo. Você tá cheia de vontade, louca para dar e meu pau tá mole.
Eu sou as últimas três linhas brancas porcamente enfileiradas na mesa de vidro preta. Eu sou um contraste lindo entre uma droga barata e um móvel de segunda mão.
Eu sou uma sexta-feira desperdiçada, uma cópia literária do Chuck Palahniuk, uma pesquisa no google, um sobrenome ucraniano.
O cartão de crédito, a nota argentina.
Eu sou meu terceiro dia sem consumir uma única caloria, 67 horas desperta e uma desidratação eminente.
Old habits die hard. E retornam com força!